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Já passava das três horas da manhã de domingo, 27 de janeiro de 2013. Enquanto mais de mil jovens se divertiam ao som da música “Amor de Chocolate”, um integrante da banda “Gurizada Fandangueira” acende um sinalizador, colocando fim à festa e um fim na vida de 235 jovens. A tragédia, que entrou para a segunda maior ocorrida no Brasil, afetou milhares de pessoas no país e no mundo. O governo, a imprensa e toda a população se perguntam como uma simples festa de universitários na boate Kiss, em Santa Maria (RS), pode resultar em tamanha catástrofe. De quem é a culpa? Da banda, dos proprietários da boate, ou do Governo, que não exerceu a sua função de fiscalizar? Será que a boate Kiss não revela na verdade um cenário comum entre as casas noturnas brasileiras? Até quando vai ser preciso ocorrer outras tragédias como a de Santa Maria?
Matéria publicada no jornal Estado de Minas em 29 de janeiro mostrou que em Belo Horizonte, por exemplo, é fácil encontrar casas noturnas que não cumprem as normas de segurança contra incêndio, fixadas pelo Corpo de Bombeiros. Dos 13 estabelecimentos visitados pelo Jornal, apenas três cumpriam principais exigências. O staff de eventos, Bruno Barreto, afirma que em Salvador o cenário não é diferente. “Já vi diversos lugares em péssimas condições. Falando especificamente de Salvador, tivemos nesta semana duas boates interditadas, exatamente pelas questões de segurança básica que levaram à tragédia da Kiss”, relata Bruno, que ainda conta que uma destas casas interditadas funcionava como borracharia durante o dia e boate aos finais de semana. “No ambiente interno existiam diversos pneus espalhados, material inflamável, além de ser um local bastante apertado”.
Porém, se tratando de uma tragédia com tantas vítimas como a da boate Kiss, não podemos afirmar que apenas a falta de segurança do local foi fator agravante. Há uma cadeia de falhas e de culpados. “A meu ver não houve um fator, mas uma série de fatores que, juntos, culminaram com a tragédia. O artefato pirofórico inapropriado para o tipo de espaço, os indícios de superlotação da casa, a ausência de saídas de emergência em conformidade com a capacidade do local, o aparente despreparo por parte dos funcionários do empreendimento, entre outras coisas”, destaca o coordenador do curso de graduação em Eventos da Faculdade Estácio BH, Fábio Pessoa.
E como o Brasil pode resolver este problema?
Em 2001, a casa de show “Canecão Mineiro” situada em Belo Horizonte também foi incendiada durante uma queima de fogos (em lugar fechado) que resultou na morte de sete pessoas. O coordenador e também produtor de eventos Fábio cita as principais medidas governamentais que deveriam ser adotadas no país para evitar novos acidentes. “Regulação e fiscalização de casas do gênero. Uma base legal sólida e uma constante vistoria podem minimizar ocorrências como esta”, salienta. Esta é a mesma opinião do staff de eventos Bruno: “Precisamos de mais rigidez e eficiência em todos os órgãos de fiscalizações. Se necessário, criar novas regras de segurança para todo tipo de local de eventos. Infelizmente é tarde demais, visto o acidente no sul. Mas, antes tarde do que nunca!”.
Regularizar a profissão é a solução?
Como mostramos em post anterior, os cursos profissionalizantes e acadêmicos para produtores de eventos crescem continuamente em todo o país. Trabalhando diariamente em um ambiente acadêmico e rodeado de alunos que estudam para se tornarem produtores de eventos, Fábio acredita que apenas a regulamentação do profissional não é o caminho e chama atenção para a profissionalização de toda a cadeia que envolve “fazer eventos”. “É extremamente importante regular o mercado de produção de eventos como um todo. Dentro desta regulação sugere-se a utilização de profissionais com qualificação específica em eventos. Da mesma forma que ninguém gostaria de cortar o cabelo com um açougueiro, não se pode querer que um mecânico faça a segurança de uma casa de shows”, pontua ele, afirmando que trabalhar com entretenimento para pessoas é coisa séria: “Cada profissional deve atuar em sua área de formação e com eventos isso não é diferente. A seriedade e o profissionalismo devem vir em primeiro lugar”, conclui.
E o futuro?
O que podemos esperar? Será que novas tragédias continuarão acabando com a noite e com a vida de centenas de jovens que buscam por diversão? Infelizmente o que vemos é que o amadorismo e, principalmente, a ganância de faturar em cima da inocência das pessoas continuam predominando na maioria das casas noturnas brasileiras. Falta responsabilidade e sobra oportunismo!
Ao ser contratado para produzir um evento ou ao escolher um lugar, fiscalize se as normas de segurança estão em dia, se há um alvará de funcionamento. Procure uma equipe composta por profissionais. Fábio lembra que como a fiscalização no país é falha, muitos espaços estão em desacordo com o que reza a norma e colocam inocentes em perigo.
“Que esta tragédia sirva de alerta para aqueles que estão no mercado se fazendo passar por pessoas sérias e para aqueles que encaram a profissão de eventos como diversão. Quer fazer uma festa brincando? Faça em casa para sua família e amigos. Não coloque em risco a vida de terceiros!”
(trecho do texto postado pelo coordenador da Estácio BH, Fábio Pessoa, no Facebook, dia posterior ao acidente em Santa Maria).
Nas próximas semanas você confere aqui no Produzindo Eventos as principais dicas de segurança que você, produtor de eventos, deve ficar de olho. Não arrisque!